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História do Vidro - parte 5

Da Idade Moderna à Revolução Industrial

A Idade Moderna durou 336 anos (de 1453 até 1789) e representou um período de passagem do estilo de vida medieval para um novo estilo de vida, considerado moderno. A mais importante transição iniciada nessa fase é a do modelo econômico. Enquanto na Idade Média a economia era feudal, na Idade Moderna o mundo começou a conhecer o capitalismo.

Outra grande mudança veio com o Renascimento, um movimento que renovou a arte, a ciência e a cultura, criando uma nova forma de entender a relação entre o ser humano e o universo. Enquanto na Idade Média a vida humana era condicionada à vontade divina, na Idade Moderna o homem começou a mudar seu modo de pensar, tornando-se mais autônomo em suas escolhas. Essa mudança de mentalidade se deveu muito aos avanços da ciência que possibilitaram explicar racionalmente fenômenos que antes eram explicados apenas religiosamente.

Também durante a Idade Moderna, a Reforma Protestante mudou a organização dos cristãos, (até então todos católicos) fazendo surgir várias outras igrejas cristãs, precursoras das atuais igrejas evangélicas. Em função disso, em países protestantes, como a Inglaterra, deixou de existir a influência política da Igreja Católica. Nesses países a evolução tecnológica e o progresso econômico foi mais rápido, alcançando maiores níveis de desenvolvimento que os países católicos.

Do artesão ao operário

No caso do vidro, o principal impacto veio com a Revolução Industrial, que começou na Inglaterra em 1760 e se expandiu para outros países a partir de 1900. Ela também representa uma transformação, dessa vez, na forma de produzir coisas. Os avanços tecnológicos propiciaram a transição da produção artesanal para a industrial. A invenção de máquinas e equipamentos aceleraram o processo de fabricação de produtos. Nesse contexto, sai a figura do artesão que fabrica o produto manualmente do começo ao fim e entra a figura do operário trabalhando na linha de produção de uma máquina capaz de produzir muito mais e mais rápido, acima de tudo, gerando maior lucro.

O vidro pré-industrial

A fase de transição chegou ao fim em 1789, com a Revolução Francesa. A essa altura, além da Itália, França e Inglaterra tornaram-se referências na fabricação de vidro. Inclusive, o incentivo do governo francês para a implantação de fábricas que produzissem itens destinados à exportação - como o vidro - oportunizou a fundação de uma das mais importantes fabricantes de vidro da atualidade: a francesa Saint Gobain, em 1693. Sieur Abraham Thévart, fundador da Saint Gobain, inventou o que seria um dos embriões dos processos industriais de fabricação de vidro: o método coulage.

Embora a técnica possibilitasse a produção das maiores placas de vidro já vistas até então, seu custo era muito alto e levava muito tempo para uma placa ficar pronta. A construção do forno para fundição do vidro levava seis meses. Tratava-se de uma fornalha com um grande tanque de metal dentro no qual se fundiam os componentes do vidro por 24h. Depois disso, um tanque menor era mergulhado na massa líquida e retirado 6h depois, por meio de um sistema de correntes e roldanas. A massa era então derramada nas “mesas-forma”, esticada e alisada com réguas metálicas. Somente dez dias depois o vidro estava pronto para o polimento e a aplicação em vidraças.

O vidro ganha espaço na Construção civil

Com a Revolução Industrial, o ferro passa a ter mais opções de utilização e processamento e, com isso, torna-se mais uma opção, além da madeira, na parte estrutural das construções. Ainda que, inicialmente, o ferro tenha sido evitado em residências e utilizado somente em locais transitórios, como galerias e estações ferroviárias, com o passar do tempo, esse metal evoluiu e terminou por substituir totalmente a madeira na estrutura de todo tipo de construção. Juntos, ferro e vidro revelaram-se uma das grandes novidades da arquitetura moderna. Os dois tornaram-se uma dupla perfeita para construir com rapidez e eficiência, além disso, gerando pouco entulho e sujeira. Fora isso, o vidro por si só apresentava vantagens. Quanto maior a placa de vidro, maior o vão preenchido e menor o tempo gasto com assentamento de tijolos. Por permitir a passagem de luz, criava ambientes claros e transparentes, integrando espaços ao por fim às barreiras visuais.

A primeira cobertura de vidro da história - Galerie d'Orleans do Palais Royale de Paris – 1829

Em 1829, pela primeira vez, o arquiteto francês Pierre-François-Léonard Fontaine teve a ideia de combinar vidro e ferro para fazer uma cobertura de vidro para uma galeria. A galeria, que ligava o Palácio Real aos seus jardins, foi palco do discurso que culminou na Revolução Francesa. Em 1835, a galeria foi reformada e a cobertura de vidro retirada, deixando o espaço novamente aberto. Posteriormente, ela foi demolida e, desde 1986, em seu lugar estão construídas as colunas de Buren.

Estufa do Jardin des Plantes, Paris - 1834

O Jardin des Plantes é um jardim botânico que faz parte do Museu de História Natural em Paris, na França. Criado pelo médico do rei Luis XVIII, em 1626, como herbário de plantas medicinais, foi aberto ao público em 1640. Na parte externa do jardim há quatro estufas alinhadas. Duas delas são as mais antigas do mundo em ferro e vidro. A Estufa Mexicana foi construída entre 1834 e 1836, pelo arquiteto Charles Rohault Fleury e, posteriormente, ele projetou a Estufa Australiana. Considerado o precursor da arquitetura metálica na França, Fleury projetou as duas estufas em estrutura metálica fechada com placas de vidro em todos os planos. As estufas do Jardin des Plantes serviram de inspiração para o Palácio de Cristal inglês, construído pelo paisagista inglês Joseph Paxton nos mesmos moldes, porém, com dimensões bem maiores.

Halles au Blé (atual Bolsa de Comércio de Paris), Paris – 1811/1838

Construída em 1811, pelo engenheiro François Brunet e pelo arquiteto François-Joseph Bélanger, ambos franceses. Originalmente, a estrutura de ferro forjado foi preenchida com placas de cobre, porém, em 1838, todas as placas de cobre foram substituídas por placas de vidro.

O Palácio de Cristal, Londres - 1851

O Crystal Palace Paxton ou Palácio de Cristal foi construído para sediar A 1ª Exposição Universal de Londres, em 1851. O evento anual era uma espécie de feira de novos produtos e novas tecnologias desenvolvidas pelos ingleses e divulgadas para o mundo nessa ocasião. O projeto e construção foram responsabilidade do jardineiro e paisagista Joseph Paxton. Especialista em construir estufas de vidro, Paxton recebeu o desafio de construir em pouco tempo um pavilhão desmontável. O resultado final foi uma estufa gigante, com 72.000m², sustentada por mais de 3 mil colunas de ferro, fechada com 300 mil placas de vidro encaixadas nas estruturas metálicas. Foram soprados artesanalmente 68 mil cilindros para fabricar as placas de vidro de 25 cm X 1, 25 m, com espessura de 2mm, em média. Para se ter uma ideia, o vidro utilizado representava um terço de toda a produção da Inglaterra. Em 1854, o palácio de Cristal foi desmontado e remontado em Sydenham Hill. Lá ficou até 1936, quando um incêndio o destruiu totalmente.

Fim da História

As mudanças foram muitas e ocorreram gradativamente. Porém, já é possível reconhecer alguns traços da época atual no novo arranjo de sociedade iniciado na Idade Moderna e, principalmente na maneira como o vidro passou a ser usado na construção civil. Estamos cada vez mais perto... e na próxima edição chegamos à época atual: a Idade Contemporânea. Ela é nosso ponto final nessa viagem pela História do Vidro. Até lá!

Fontes de consulta:

CEBRACE 40 anos, disponível em http://www.cebrace.com.br/

Do vitral ao pano de vidro. O processo de modernização da arquitetura em São Paulo através da vidraçaria (1903-1969), de Raquel Furtado Schenkman Contier, disponível em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-19122014-174236/pt-br.php

Joseph Paxton e o Palácio de Cristal – Um Marco do Design e da Arquitetura, disponível em http://portal.anhembi.br/sbds/pdf/5.pdf

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